sexta-feira, 5 de março de 2010

CARRUAGEM DE FOGO?

Todas as vezes que perguntamos: “Como Elias foi levado aos céus?” A resposta é sempre a mesma: “Numa carruagem de fogo!” Esta é uma “lenda” tão difundida em nosso país e no mundo que a partir dela surgiram músicas, peças teatrais e diversos outros “atrativos” baseados nesta mesma premissa. Os pregadores falam nos púlpitos e proclamam o “milagre” das carruagens que transportaram Elias até as moradas eternas!



Mas como isso surgiu? Certamente foi um erro cometido por alguém que trabalhou na tradução das Escrituras e que ao colocar os “títulos” dos capítulos escreveu ali que “Elias é levado aos céus numa carruagem de fogo”. E isso perpetuou-se até o dia de hoje...

Em primeiro lugar gostaríamos de ler o referido texto para verificarmos que isso se trata de um equívoco de LEITURA das Escrituras, pois no texto do livro de II Reis não encontramos isso! É impressionante que os pregadores, escritores e protagonistas das peças teatrais e outras atividades lêem o texto e dizem o contrário daquilo que está ali registrado! Eu pessoalmente já presenciei isso...

Mas vamos ao texto:

“Sucedeu que, quando o IHVH estava para elevar a Elias num redemoinho ao céu, Elias partiu de Gilgal com Eliseu. E disse Elias a Eliseu: Fica-te aqui, porque o IHVH me enviou a Betel. Porém Eliseu disse: Vive o IHVH, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Betel. Então os filhos dos profetas que estavam em Betel saíram ao encontro de Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o IHVH hoje tomará o teu IHVH por sobre a tua cabeça? E ele disse: Também eu bem o sei; calai-vos. E Elias lhe disse: Eliseu, fica-te aqui, porque o IHVH me enviou a Jericó. Porém ele disse: Vive o IHVH, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim foram a Jericó. Então os filhos dos profetas que estavam em Jericó se chegaram a Eliseu, e lhe disseram: Sabes que o IHVH hoje tomará o teu IHVH por sobre a tua cabeça? E ele disse: Também eu bem o sei; calai-vos. E Elias disse: Fica-te aqui, porque o IHVH me enviou ao Jordão. Mas ele disse: Vive o IHVH, e vive a tua alma, que não te deixarei. E assim ambos foram juntos. E foram cinqüenta homens dos filhos dos profetas, e pararam defronte deles, de longe: e assim ambos pararam junto ao Jordão. Então Elias tomou a sua capa e a dobrou, e feriu as águas, as quais se dividiram para os dois lados; e passaram ambos em seco. Sucedeu que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim. E disse: Coisa difícil pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará, porém, se não, não se fará. E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho”
II Rs 2:1-11

Vamos reparar agora nos versos 1 e 11 que dizem: “Sucedeu que, quando o IHVH estava para elevar a Elias num redemoinho ao céu, Elias partiu de Gilgal com Eliseu” II Rs 2:1; “E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho” II Rs 2:11. Em qual destes texto está escrito que o Eterno se utilizaria de “carros com cavalos de fogo” para LEVAR Elias aos céus? Nenhum! Então por que os escritores, pregadores, palestrantes, atores, músicos, ainda assim insistem em propagar algo que NÃO É VERDADEIRO?

Este é um problema de “cegueira espiritual” que faz com que as pessoas leiam porém não entendam aquilo que está ESCRITO! O texto é claro; Elias foi levado aos céus por um redemoinho e não por carros com cavalos de fogo! O que nos parece é que as pessoas não estão lendo as Escrituras de fato, pois este – além de outros – são erros que podem ser evitados numa simples leitura cuidadosa da Bíblia. E mais: se os “tradutores” ou seja lá quem for erraram no momento em que os “títulos” foram colocados nas Escrituras, isso não significa que devemos acompanhar estes erros indefinidamente!

Agora uma pergunta: “Por que o Eterno se utilizou de um redemoinho e não de `carros com cavalos de fogo´ para levar Elias aos céus”? Na língua hebraica a palavra “redemoinho” vem do termo “searâ” e significa “tempestade, redemoinho”; nas passagens paralelas este termo pode significar duas coisas: ou é uma figura do próprio Eterno que vem ou para trazer algo – juízo, restauração – ou é um de seus mensageiros enviados para cumprir seus propósitos. Baseados nisso podemos afirmar que o que aconteceu com Elias é que ele pode ter sido levado para a Eternidade pelo próprio Eterno ou por um de seus mensageiros que o conduziu para aquele lugar! De qualquer forma foi uma tremenda honra para Elias ser conduzido à eternidade desta forma, pois ou ele foi levado para lá pelo próprio Criador ou por um de seus enviados, que veio justamente com esta finalidade. Ele foi conduzido aos céus de uma forma honrosa!

Falta entendermos algo: então, para que serviu a “carruagem de fogo, com cavalos de fogo?” Este “carro” está associado com o livro de Ezequiel, quando no capítulo 1 nos é apresentado algo semelhante, mas que ali são quatro seres celestiais que contém quatro rodas que estão entrelaçadas. Segundo alguns intérpretes do judaísmo, estes “seres celestiais” de Ezequiel 1 prefiguram a vinda do Ungido e também as quatro bessorot (boas novas) que seus talmidim escreveram acerca dele. Então é como se esta separação entre Elias e Eliseu demonstrasse que ali haveria a continuidade do tempo profético do Eterno em Israel só que de uma forma “duplicada”; então Elias seria levado para a eternidade a fim de esperar para terminar o que havia começado, enquanto Eliseu levaria a cabo aquela obra continuando a demonstrar todo o poder de Elohim!

Quando lemos a bessora (boa nova) de Matityahu vemos algo interessante sobre isso: “E, desde os dias de Iorranam o imersor até agora, se faz violência ao reino dos céus, e pela força se apoderam dele. Porque todos os profetas e a Torah profetizaram sobre João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir” Mt 11:12-14. Então Iorranam se equivale a Elias e depois é retirado de cena para que outro dê continuidade àquilo que ele havia começado. Este é Ieshua, que continua o trabalho iniciado por Iorranam e de uma forma ainda mais intensa traz a eternidade de novo para a esfera terrestre!

Agora podemos concluir este artigo dizendo que Elias certamente foi um homem privilegiado em diversos sentidos:

* Ele teve um ministério tremendo diante do Eterno enquanto esteve na terra;
* Ele tornou-se um marco na história de Israel;
* Seu discípulo mais chegado dá continuidade ao seu ministério de forma plena e eficaz;
* Quando ele é levado para a eternidade isso acontece em meio a um cortejo real;
* Ele aguarda ser transferido novamente para aterra a fim de “terminar” definitivamente seu ministério de forma brilhante.

Assim vemos que Elias foi protagonista de um dos acontecimentos mais esplêndidos da história de Israel – e também do mundo – pois foi através dele que o Eterno dá uma “virada” na história de Israel e traz de volta seu povo para estar diante d´Ele. E agora, ele somente espera pelo momento em que consumará de fato aquilo que já começou no passado... Resta uma pergunta: “Como ele virá para a terra?” Ninguém sabe ao certo, mas o que sabemos é que assim como ele foi levado para a Eternidade de uma forma especial, desta mesma forma ele será trazido de volta e terminará seu ministério em Ierushalaim.

E o carro de fogo com os cavalos de fogo? Ele está entre nós e em muitas ocasiões ele “divide” nossa vida em “antes” e “depois” e faz com que tenhamos uma nova dimensão do Eterno e de Sua Palavra. Que assim seja conosco; que o carro do Eterno D-us de Israel nos conduza ao conhecimento do Ungido e de Sua palavra a cada dia de nossas vidas e ministérios!

O SEFER TORÁ E SIMCHAT TORÁ

“Moisés recebeu a Torá no Sinai e a transmitiu à Joshua. Joshua aos primogênitos, os primogênitos aos profetas e os profetas aos homens do Templo”.
(Mishná 1)
A Torá, ou os cinco livros de Moisés, são pergaminhos manuscritos de um só lado, costurados de forma contínua e enrolados em dois cabos de madeira, designados poeticamente de a “Árvore da Vida”. Esta referência baseia-se num antigo dito hebraico segundo o qual “A Torá é a Árvore da Vida para aqueles que a ela se dedicam”.

O conjunto que engloba os cinco livros de Moisés, Gênese, (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Vaikrá), os Números (Bamidbar) e Deuterônomio (Devarim) é chamado Sefer Torá, e é utilizado num dos importantes momentos da liturgia da sinagoga. A confecção destes rolos, a particularidade de sua escrita, paginação e seus diversos ornamentos, constituem um mundo apaixonante do ponto de vista intelectual e estético.

Desde a época de Ezra (IV século a.EC.), a Torá é lida em público três vezes por semana (nas segundas, quintas e sábados) nos dias de festa ou feriado religioso, em Rosh Chodesh (1º dia do mês) e nos dias de jejum. Para que esta leitura pública seja realizada, precisam estar presentes no mínimo dez homens (Minyan) que já tiverem feito Bar-mitzvá. Antes da leitura, realizada em geral por um chazan (especialista em canto litúrgico), são chamadas de três a sete pessoas a recitar uma benção e/ou ler uma passagem.

A Torá é lida inteira durante um ano, sendo dividida em cinqüenta e quatro porções, cada uma chamada Sidrá. Sidrá significa “ordem” ou Parashá, que significa “pedaço” ou “passagem”. Em cada Shabat lê-se uma porção diferente. O início do ciclo é no Shabat após a festa de Simchat Torá (festa da Torá), que encerra as festas de outono, e o término do ciclo é em Simchat Torá do ano seguinte.

Desta forma, de semana em semana, a cada sábado, a história bíblica acompanha o povo judeu desde a criação do mundo até a morte de Moisés e a entrada na “Terra Prometida”. No mundo inteiro, todos os judeus lêem o mesmo texto, no mesmo dia. (De forma excepcional, pode haver uma leitura diferente durante algumas semanas em Israel, devido ao tempo das Festas ser mais curto que na Diáspora).

Cada uma das cinqüenta e quatro porções tem um nome particular: é aquele da primeira palavra ou de uma das primeiras palavras do primeiro verso da Parashá. Assim, a primeira Parashá chama-se Bereshit, que é a primeira palavra do primeiro verso da Torá: “Bereshit bará Elokhim et hashamayim”. O Shabat o adquire ele próprio o nome da Parashá. Assim, quando falamos do Shabat Bereshit, estamos referindo-nos ao Shabat no qual é lida a “Parashá Bereshit”.

Durante o oficio público, após a leitura das bênçãos matinais, dos salmos, do Shemá Israel e da Amidá são retirados os rolos da lei ou Sifrei Torá (plural de Sefer Torá) da Arca Sagrada (Aron Hakodesh ou Heichal), que se encontra no fundo da sinagoga, do lado oposto à entrada, voltada na direção de Jerusalém (Nordeste). Os homens beijam o Sefer Torá com seu talit e as mulheres “jogam” beijos para a Torá, à medida que esta vai passando.

A Arca Sagrada ou Aron Hakodesh.

A Arca Sagrada é um armário que contém em geral diversos rolos da lei. Segundo o costume ashquenazita, os rolos são envoltos em mantos ricamente decorados, bordados com fios de ouro ou prata, sobre os quais podemos ler os nomes dos doadores e as ocasiões nas quais estes foram doados. Segundo o costume sefaradita, o rolo inteiro é envolto numa tira de seda pura e é colocado numa caixa cilíndrica. Esta caixa é feita de madeira entalhada ou de prata, composta de duas partes unidas por meio de dobradiças. Algumas destas caixas de metal são feitas à mão e gravadas com prata.

Os ornamentos

Placas de prata ou de outro metal são penduradas sobre o Sefer Torá. Estas plaquetas são intercambiáveis e têm gravados os nomes das Parashot da semana. Sobre os suportes de madeira encontram-se uma ou duas pequenas coroas, chamadas Rimonim (romãs). A romã, por ser cheia de sementes, simboliza a esperançosa bênção de grande fertilidade e aumento de população em Israel.
A mão da Leitura ou Yad.

O Yad (mão em hebraico), é uma espátula ornamental fina, feita de prata e presa a uma corrente de prata, com a forma de uma “mão”, cujo dedo indicador serve de “apontador”. Mede entre 20 a 25 cm de comprimento. Este apontador é algumas vezes incrustado com pedras semipreciosas e adornado com uma coroa ou outro motivo, mas em geral é simples e liso, sem qualquer decoração. É utilizado para a leitura da Torá, dada a proibição de se tocar o rolo com a mão, além de ter a finalidade de indicar separadamente cada palavra do texto para que nenhuma delas seja esquecida por descuido.

A exposição da Torá ou Haguebaha.

Um fiel é chamado a abrir a Arca Sagrada e levar os rolos até a mesa de leitura, situada no centro da sinagoga. Esta mesa é chamada de Tebá ou Bimá. O rolo é colocado sobre a Tebá, seus ornamentos são retirados e é aberto na porção a ser lida. Chama-se um fiel para levantar o rolo aberto e expô-lo perante todos os presentes na sinagoga. Para isso, esta pessoa faz um círculo completo, com os braços estendidos, suspendendo a Torá para o alto.

Esta apresentação pública é chamada Haguebaha, ou seja “elevação”. É uma grande honra ser chamado a ler ou recitar uma bênção, diante dos rolos abertos. Durante as grandes ocasiões, pode-se proceder a um leilão pela participação nas diversas cerimônias. Esta é uma maneira indireta de dar ao público a possibilidade de contribuir com as despesas de manutenção da sinagoga. É freqüente, também, o hábito de fazer uma doação quando se sobe à Torá.

Os instrumentos do escriba.

Os livros da Torá, ou Sifrei Torá, são rolos feitos de couro curtido ou pergaminhado. Na época do Segundo Templo e até o início da Idade Média, a escrita era efetuada sobre couro preparado com peles de animais ritualmente limpos. Sobre estes rolos, constituídos de tiras de pele com tendões ressequidos, costurados uns aos outros, eram escritos os textos sagrados. Para escrever os textos utilizava-se, no Oriente, uma planta entrelaçada e no Ocidente, uma pena de ganso.

O escriba ou Sofer escreve à mão, seguindo um modelo para não se enganar. Utiliza uma tinta preta especial, a melhor e mais duradoura, que não se apaga facilmente e resiste ao desgaste do tempo. O pergaminho é dividido em páginas contendo quadrados, e as linhas são cuidadosamente riscadas com um estilete. Um erro comum pode ser apagado; porém, se for no nome de D’us, é considerado um pecado grave em qualquer circunstância e a página inteira deverá ser retirada e enterrada.

A estrutura do texto da Torá

Neste texto não há nenhuma vogal. As palavras são formadas somente de consoantes, sem nenhuma pontuação, o que torna a leitura bastante difícil, fazendo-se necessária uma boa preparação para aprender a ler e cantarolar corretamente. Não há nada que assinale o ritmo ou a passagem de um ritmo a outro; pontos e vírgulas são totalmente ausentes. O fluxo dos vocábulos só é interrompido quando houver alguns espaços em branco, sem nenhum texto escrito. O texto contido entre dois espaços em branco é chamado de Parashá, ou “passagem”. A separação entre os 5 livros da Torá é marcada por um espaço de quatro linhas.

A comunidade da Síria segue as leis de Rambam na escrita do Sefer Torá.

As letras da Torá devem ser embelezadas pelos taguim e cada coluna da Torá (com algumas exceções) deve começar com a letra Vav (chamado vavei amudim).

Certas letras são ornadas de pequenos floreios, chamados de coroas. Sete das vinte e duas letras do alfabeto hebraico são ornadas, do lado esquerdo de três pequenos traços chamados Taguim (Tag, no singular) ou Ketarim (Keter, no singular), que significa “coroas”.

Para compreender o sentido destas coroas, deve-se salientar outro ponto relacionado às letras do alfabeto hebraico. O Rabino Tsadok Hakohen, de Lublin, especifica a diferença essencial entre a maneira de escrever os caracteres hebraicos e os latinos. Trata-se da posição da letra em relação à linha diretriz. Na escrita latina, as letras se apóiam sobre uma linha inferior, enquanto que na escrita hebraica, a letra está pendurada, suspensa à linha superior.

A linha diretriz é o limite da escrita; tem um sentido simbólico, porque traça o limite entre a escrita e o “além da escrita” - o conteúdo profundo da palavra. Nota-se que nenhum corpo das vinte e duas letras do alfabeto hebraico ultrapassa este limite. Na verdade, quase nenhuma, pois há uma única exceção, a letra Lamed.

Lamed é a raiz semântica de tudo que é relacionado ao estudo e ao ensinamento. Este ensinamento está contido no significado da própria letra Lamed, “aprender”. Aprender é penetrar neste movimento que ultrapassa a linha da escrita, é ir “além do versículo”. Lamed significa “estudar”. Desta letra, vem a palavra Talmud, livro chave do pensamento judaico. No Talmud, encontra-se a chave da sabedoria, mas o verdadeiro saber somente é atingido através de muita perseverança, questionamento e dedicação.
Um dos seiscentos e treze mandamentos da Torá é escrever um Sefer Torá ou tornar possível a publicação de um livro religioso de estudo. Assim, é comum encontrar nomes de pessoas ou famílias que contribuíram com a edição de um livro na primeira ou última página deste. Certas comunidades se cotizam para escrever um livro da Torá, comprando uma letra, um capítulo ou uma porção inteira.

Um Sefer Torá velho, os livros de reza velhos, as mezuzot e os tefilin danificados, não são destruídos. São enterrados respeitosamente em uma ala do cemitério judaico, ou reunidos em uma sala nas redondezas da sinagoga. Este local é chamado de Guenizá. A Guenizá do Cairo, descoberta no final do século XIX, revelou-se de uma importância inestimável para as buscas históricas. Continha manuscritos muito antigos de numerosos textos sagrados e indicações muito preciosas sobre a vida, o comércio, os costumes e as viagens de numerosos judeus por um período bastante amplo.

Na comunidade síria, os Sifrei Torá são colocados na Guenizá durante o mês de Elul e em outras ocasiões específicas. A Guenizá se encontra no cemitério da congregação. Os Sifrei Torá são examinados semanalmente pelo chazan ou pelo sofer, que revisa a porção semanal cuidadosamente antes do Shabat.

Se, por infelicidade, alguém deixar cair um Sefer Torá, aqueles que puderem deverão jejuar e os que não puderem devem fazer tsedaká.

“Hakol Talui Bamazal Afilu Sefer Torá Shebahechal - Tudo depende da sorte, até mesmo o Sefer Torá, que está na Arca”.

Cerimônia de dedicação de um novo Sefer Torá de acordo com os costumes da comunidade síria

O doador traz o Sefer de sua casa até a sinagoga, sob uma chupá, acompanhado de um grande cortejo de músicos, de sua família e amigos cantando ao longo do percurso.

Ao chegarem na sinagoga, os Sifrei Torá pertencentes à sinagoga são retirados do Hechal e levados para dar as boas-vindas ao novo Sefer que está sob a chupá, junto com cânticos e músicas.

A complementação das letras finais da Torá é ordenada, distribuindo-se a honra de escrever a letra a vários convidados de honra, junto ao escriba.

O privilégio de escrever as letras que concluem o texto da Torá é habitualmente reconhecido por uma contribuição à sinagoga por parte de cada um dos participantes, que foram honrados nesta cerimônia de “Siyum hasefer”.

O novo Sefer é então colocado na Arca, juntamente com os outros.

O pergaminho no qual o Sefer Torá é escrito pode ser descolorido antes da escrita ser feita. A pena de qualquer pássaro casher é utilizada na escrita da Torá.

A forma específica das letras utilizadas para escrever o Sefer Torá da comunidade síria é conhecida como ketab velish.

Simchat Torá

A festa de Simchat Torá é celebrada no oitavo dia de Sucót, em Israel, e na Diáspora no nono dia. Nesta festa é lida a última seção dos “Cinco Livros de Moisés”, concluindo o ciclo de um ano, que é iniciado em seguida com a leitura do primeiro capítulo do Gênese. Este procedimento ratifica a idéia de que o estudo da Torá é infinito.

Chatan Torá (noivo da Torá) é o título dado à pessoa que é honrada com a leitura da seção conclusiva do Deuteronômio, enquanto Chatan Bereshit (noivo do Gênese) é o título dado àquele que é honrado com a leitura da seção inicial da Torá.

Um dos aspectos que se sobressaem é a volta feita ao redor da sinagoga por sete vezes, Hakafot. Todos dançam alegremente carregando os rolos de Torá. Cada adulto da congregação tem a honra de participar, carregando os rolos da Torá, seguido por crianças.

Algumas comunidades têm o costume de colocar um candelabro aceso dentro da Arca após a remoção dos rolos, para que a Arca não fique totalmente sem luz. O candelabro simboliza a luz da Torá que ali se encontra constantemente. Em muitas comunidades judaicas, é hábito ler a Torá na noite de Simchat Torá. Os costumes variam de acordo com o trecho lido e cada comunidade segue sua própria tradição.

Na comunidade síria, durante o serviço de Yom Kipur, costuma-se anunciar quem terá a honra de ser os shushbinim e os chatanim para Simchat Torá. As aliyot para o dia de Simchat Torá no serviço de Shacharit são as seguintes: Cohen, Levi, Yisrael, Shushbin revii, Shushbin chamishi, Chatan Meona, Chatan Torá, Chatan Bereshit, e Chatan Maftir.

Enquanto estes não sejam os únicos que recebem aliyot no dia de Simchat Torá, não é factível chamar a todos, mas serão chamados tantos quantos for conveniente, sendo que cada comunidade tem hábitos diferentes. Há uma aliyá especial para as crianças, que são cobertas pelos talitot e recitam a berachá em uníssono. Para legitimar a aliyá, um rapaz com idade superior a de Bar-mitzvá também recita a berachá.

A congregação então une-se entoando Yigdal, reza que introduz a retirada de todos os Sifrei Torá, que são colocados sobre as mesas. A partir deste instante, o rabino pega um Sefer Torá e começa a dançar na parte da sinagoga entre a Tebá e o Hechal. É dada a oportunidade a outras pessoas para dançar com a Torá, enquanto os pizmonim são cantados com muita alegria.

A SARÇA ARDENTE

Neste artigo descrevemos uma passagem da Torá que fascina pensadores e comentaristas e motiva a uma reflexão. Através da metáfora de uma sarça ardente que não era consumida pelas chamas, o Todo Poderoso pretendia fazer ver a Moshé que sempre há um outro aspecto, ao nosso redor,que não é visto por nós.


"Moshé estava apascentando o rebanho de seu sogro Yitro, o chefe de Midian. Ele conduziu o rebanho para trás do deserto, e chegou ao Monte de D'us, a Chorev. E apareceu-lhe o Anjo de D'us numa chama de fogo, no meio da sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.E disse Moshé: Aproximar-me-ei e verei esta grande visão, por não se queima a sarça? E viu o Eterno que ele se aproximou para ver e chamou-o D'us, de dentro da sarça: "Moshé, Moshé! "Eis-me aqui", replicou (Moshé). "Não chegues para cá! Tira teus sapatos de teus pés porque o solo em que estás é terra sagrada. Eu sou o D'us de teu pai, D'us de Abrahão, D'us de Isaac, D'us de Jacob". (Shemot 3: 1-5)

Descrita na Torá, esta cena fascinou imensamente comentaristas e pensadores de todos os tempos. Sem dúvida, uma visão ao mesmo tempo inspiradora, temível e deslumbrante. Foi no decorrer deste encontro com o Eterno que Moshé se tornou o mensageiro divino, com a missão de libertar o povo judeu da escravidão do Egito.

À certa distância, Moshé observa na montanha o arbusto que queimava vigorosamente - sem, no entanto, ser consumido! De repente, a Voz do Todo Poderoso lhe fala, de dentro da sarça em chamas. Ordena-lhe que não se aproxime e que descalce os pés, pois a terra onde pisava era sagrada.

Por que teria D'us escolhido uma sarça ardente para se comunicar com aquele que se transformaria no maior profeta de todos os tempos? Por que não se dirigiu a Moshé diretamente, através de um sonho ou visão profética, como fez com os demais profetas? E por que mandou Moshé remover o calçado antes de se aproximar? Os comentaristas explicam que, embora tivesse fugido do Egito muitos anos antes, Moshé nunca se esqueceu do sofrimento de seus irmãos que ainda lá viviam, escravizados pelo Faraó. Mesmo enquanto vivia na serenidade de Midian, ele não tinha paz interior e não lhe saía do pensamento o sofrimento e o trabalho pesado imposto pelos egípcios a seu povo. O que sucederia? Quanto tempo duraria ainda a terrível agonia de seu povo? Estas perguntas não abandonavam Moshé. Seu corpo estava em Midian, mas seu coração ficara no Egito, na escravidão, junto com seus irmãos.

D'us respondeu as perguntas de nosso maior profeta com a metáfora da sarça ardente que não era consumida pelas chamas Aquele arbusto solitário em meio à desolação da montanha árida simbolizava o Povo de Israel preso ao desespero do exílio e desprovido de sua liberdade física e espiritual.

O fogo simbolizava o sofrimento terrível dos filhos de Israel. Mas, o fogo é um elemento da natureza ambivalente; é um agente destruidor, mas é também uma fonte de calor e de luz. Ao mostrar o fogo ardendo dentro do arbusto, indicava o Todo Poderoso que havia outro aspecto na cena que nosso profeta não conseguia ver. Aquele fogo não o destruiria. Pelo contrário, funcionaria como um caldeirão que os forjaria e os fortaleceria espiritualmente, criando uma ligação eterna entre D'us e Seu povo. Fortalecidos espiritualmente poderiam seguir rumo a seu destino, prontos para receber do Eterno a Torá.

Com o fogo que ardia no interior do arbusto, o Todo Poderoso pretendia fazer ver a Moshé que sempre há um outro aspecto, ao nosso redor, que não é visto por nós. A Presença Divina estava na sarça ardente e, assim como o arbusto, não havia sido consumido pelas chamas, o terrível sofrimento dos Filhos de Israel no Egito não seria capaz de destruí-los.

Mas, por que foi tão difícil para Moshé entender o sofrimento e a aflição do exílio como um estágio indispensável no plano-mestre de D'us? A resposta está implícita na ordem de D'us ao profeta: "Tira o calçado de teus pés". Os calçados nos protegem e nos atrapalham, ao mesmo tempo. De um lado, facilitam nossa caminhada qualquer que seja o terreno; mas, de outro, prendem-nos os pés, cerceiam a liberdade de nossos dedos.

A parte física do homem tem um efeito similar. Se, de um lado, este invólucro material permite que a alma funcione neste mundo físico, do outro, obscurece a percepção espiritual do ser humano. O exílio parecia inexplicável a Moshé porque ele ainda "calçava seus sapatos". Porque, por assim dizer, ele apenas enxergava o sofrimento dos Filhos de Israel no Egito com os olhos de um mortal. Então D'us ordenou "remove teu calçado!" Era como se dissesse: "Transcende a tua existência física! Olha com os olhos da alma! Observa como a sarça ardente não é consumida! E, assim como a sarça não foi destruída, tampouco o será o Povo de Israel. "A visão do arbusto ardente é a promessa de que a Presença Divina estará sempre atuando na História e de que é Ele quem, em todas as épocas, planeja e conduz a história do Povo de Israel.

Há um outro ponto a ser interpretado nesta revelação impar, diretamente ligado à liderança de Moshé Rabenu. Com aquela demonstração, o Todo Poderoso deu-lhe as diretrizes do comportamento e da ação dignos de um líder do povo de Israel.

O arbusto simboliza o judeu. A primeira orientação de como se deve comportar um verdadeiro líder do Povo Judeu é saber valorizar cada judeu, individualmente; desde o mais simples, desde aquele que parece não possuir nenhuma qualidade, nenhum conhecimento intelectual. Este judeu sem virtudes aparentes possui algo de extremo valor - uma alma Divina. Representada pelo fogo que ardia dentro do arbusto.
O fogo simboliza o amor intenso que todo judeu sente por seu Criador. E o fato do fogo não consumir a sarça significa que este amor é eterno, constante e sempre presente, em qualquer circunstância da vida. Nossos sábios ensinam que um judeu não pode e nem deseja, de modo algum, distanciar-se de D'us. Ele está ligado e entrelaçado, por sua própria essência, com a essência de Seu Criador - um arbusto ardente que não se consome.

A ordem Divina de remover os calçados ensina como um líder de nosso povo de Israel deve agir com seus irmãos. Os sapatos têm importante função, já o sabemos. Protegem-nos dos percalços do caminho, tornando ilesa a nossa caminhada. Descalços, os pés, ficam expostos, e qualquer pedra em nosso caminho pode ferir-nos ou causar dor.

Metaforicamente, um líder do Povo Judeu não pode "andar de sapatos", sempre protegido. Isto o tornaria indiferente e apático em relação a seus irmãos. Ao assumir o comando, deve "tirar os sapatos" e sentir a dor e o clamor de cada um dos judeus. Ele deve procurar entender os problemas de seus irmãos e tentar resolvê-los o mais rápido e da melhor maneira possível.

Somente após receber tais ensinamentos, Moshé estaria apto para trazer a redenção a seus irmãos, liderando seu povo até a Terra Prometida. Na realidade, Moshé já possuía todas essas qualidades, daí ter sido eleito por D'us para conduzir seu povo. Contudo, estes ensinamentos eram necessários para os futuros líderes da Nação Judaica.

Um comportamento exemplar

Os comentaristas se perguntam: por que Moshé, o pastor, teve que conduzir o rebanho ao deserto, bem longe da cidade? Não seria mais fácil apascentar perto de casa, sem viagens penosas e longínquas? A resposta é que Moshé estava preocupado em não furtar as propriedades alheias, nem se aproveitar ou prejudicar os bens de seus semelhantes. Por isso fez questão de se afastar até o deserto, certamente terra de ninguém. Este é o respeito e a consideração que Moshé tinha por seus semelhantes.

O Zohar chama Moshé Rabenu de "Raya Mehemna" - o pastor fiel, porque ele sabia como conduzir o rebanho e se preocupava com os mínimos detalhes de seu bem-estar. O Midrash descreve como Moshé agia na hora de apascentar o rebanho. Ele o dividia em três grupos: pequenos, idosos e jovens, cercando-os a todos. Ao pastar, ele liberava primeiro os pequeninos. Por ter ainda dentes frágeis, eles teriam o privilégio de comer o pasto mais tenro. Em seguida soltava os mais velhos, que, por sua idade, também necessitavam de grama branda. E, por último, tocava os jovens, já fortes para mastigar a grama dura.

Ao ver o cuidado de Moshé com seu rebanho, o Eterno disse: "Preciso um pastor como este para o Meu rebanho - o povo de Israel. Alguém que se preocupe com cada indivíduo, pessoalmente, e analise a força e a capacidade de cada integrante de seu rebanho. Um verdadeiro líder se preocupa não somente com o coletivo, mas especialmente com o individual." Foi assim que Moshé se transformou em Moshé Rabenu, "Raya Mehemna"- o pastor fiel!

Curiosidades sobre judaismo / Apenas para conhecimentos Gerais de quem gósta de estudar

"Os Manuscritos do Mar Morto foram divididos em duas categorias: bíblicos e não-bíblicos. Fragmentos de todos os livros da Bíblia Hebraica foram encontrados, com exceção do livro de Esther. Entre os Manuscritos, foram encontradas 19 cópias do Livro de Isaías, 25 cópias do livro de Deuteronômio e 30 cópias do Livro de Salmos."

"Considerando sua população limitada, Israel é, relativamente, o país que mais absorve imigrantes. Pessoas de todo o mundo imigram para Israel em busca de democracia, de liberdade de religião e de oportunidades econômicas. Mais de meio século desde a fundação do Estado de Israel, 3 de cada 5 judeus morando no Estado Judeu nasceram em outros países."

"Moisés, segundo a Torá, tinha um problema de fala e o Midrash explica o porquê. Um dia, o faraó estava conversando com a filha e Moisés, então com três anos, estava em seu colo. Moisés olhou para a coroa do faraó e, de repente, estendeu a mão e a pegou. O faraó se assustou. Por acaso já não havia sido feita a previsão de que um dia alguém próximo a ele venceria e dominaria o Egito em seu lugar? O faraó chamou os conselheiros pedindo-lhes que interpretassem o gesto de Moisés: seria uma simples brincadeira ou um presságio nefasto? Estes decidiram, então, testá-lo colocando carvões em brasa e ouro diante dele, dizendo: “Se o menino deseja o seu reinado, vai escolher o ouro e, neste caso, merece a morte”. Moisés, atraído pelo brilho, quis estender a mão para o ouro, mas um anjo empurrou-o com força. O menino caiu em cima da brasa, gritando de dor. No pânico do momento, levou à boca a sua mão, onde estava grudado um pedaço de carvão incandescente que lhe queimou a língua. Desde aquele dia, começou a gaguejar, falando com dificuldade."

"Foi Bátia, filha do Faraó do Egito, que salvou e adotou Moisés quando ele era ainda um bebê. Qual foi sua recompensa por ter salvado a vida do maior profeta de todos os tempos? Quando os judeus foram libertados do Egito, ela saiu com eles, tendo se convertido ao judaísmo. Os místicos judeus ensinam que ela foi uma das poucas pessoas que subiu aos Céus sem ter falecido fisicamente."

São informações judaicas, não cristã apenas para conhecimentos gerais.

terça-feira, 2 de março de 2010

ARCA DA ALIANÇA

ARON HÁKODESH



O Aron Hakodesh - a Arca Sagrada ou Arca da Aliança - era o ponto focal do Tabernáculo, o local de maior santidade pelo fato de abrigar as Tábuas da Lei e a Torá, Testemunhos da Aliança Eterna selada no Monte Sinai entre D'us e Seu povo. Era também um "caminho" para a mais elevada dimensão espiritual; pois, como está dito na Torá, o Eterno se comunicaria com Moisés "por sobre a Arca". (Êxodo 25:22)



Terminara uma experiência extraordinária. Do topo do Monte Sinai, envolto em espessa nuvem, D'us Se revelara diante de todo Israel por meio da Shechiná, a Presença Divina. E, destarte, selara Sua aliança com o Seu povo.

Durante a Revelação, Israel atingiu alturas espirituais inconcebíveis, tendo um contato com a Presença Divina e ouvindo de Sua tonitruante Voz as Leis que norteariam para sempre sua existência. Em que implicaria, para eles, o término dessa Revelação e a saída do Monte Sinai rumo ao deserto? A Shechiná os abandonaria ou continuaria constantemente entre eles?

Foi nesse momento que D´us, por amor a Seu povo, ordena-lhes a construção do Mishkán, o Tabernáculo, para ser o local onde, seguindo Sua determinação, pairaria a Shechiná. Segundo o sábio espanhol Don Yitzhak Abravanel, ao transmitir Sua Vontade, o Eterno visava assegurar a Israel que não abandonaria o mundo terreno. Indicava, pelo contrário, Sua permanência entre eles. Sua Providência estaria sempre por perto, apesar de envolta em um véu, oculta aos comuns mortais. O Mishkán seria para Israel um sinal de que sempre haveria uma via de comunicação com D´us, independente de quão distantes estivessem do local da Revelação, já que lá não havia santidade intrínseca.

O que conferia santidade era a Presença Divina e a Sua Torá, Sua Palavra, que a partir da Revelação estaria para sempre com Israel. A importância do Tabernáculo pode ser constatada pelo fato de quase a totalidade da segunda parte do livro Êxodo ser dedicada à sua descrição e construção, assim como ao detalhamento de seus implementos. O Talmud, o Midrash, a Cabalá assim como comentários de nossos Sábios revelam simbolismos, fatos e minúcias sobre cada aspecto da construção. Cada detalhe, cada objeto e cada simbologia, são profundamente discutidos, analisados e esmiuçados a tal ponto que seria impossível, neste simples artigo, pretender cobrir as interpretações e conotações do assunto.

Segundo Nachmânides, grande sábio e místico espanhol do séc. XIII conhecido como Ramban, a edificação do Mishkán foi vital para nosso povo, pois, por seu intermédio, o propósito do Êxodo foi totalmente alcançado. Como explica Ramban, D´us instruíra os Filhos de Israel para construir o Tabernáculo para que a Shechiná sobre este pudesse pairar. Portanto, foi através do Tabernáculo que a elevação espiritual - que Israel atingira temporariamente durante a Revelação, no Sinai - tornou-se permanente.

O ponto focal do Mishkán era o Aron Hakodesh - a Arca Sagrada. Guardada no lugar de maior santidade do Tabernáculo, no Kodesh ha-Kodashim, a Arca iria abrigar os bens mais preciosos de Israel, símbolo da Aliança firmada no Sinai: as duas Tábuas da Lei, onde D'us inscrevera os Dez Mandamentos, os fragmentos das primeiras Tábuas estilhaçadas e o Sefer Torá original, que, ditado por D´us, fora transcrito por Moisés.

Por conter o testemunho da Palavra Divina, a Arca é o ponto de maior santidade de todo o Mishkán, o local onde se revelaria a Shechiná. Pois, seria de lá, afirma a Torá, "por sobre a Arca" que o Todo Poderoso se comunicaria com Moisés. Assim como no Monte Sinai o "Grandioso Encontro" fora único e poderoso, o "ininterrupto" encontro no Mishkán - mais precisamente, sobre a Arca - daria um prosseguimento àquele extraordinário acontecimento e ao relacionamento entre D´us e Seu povo.



O Mishkán

Como vimos acima, o Mishkán e todos os seus implementos eram o símbolo e a indicação, para o povo, de que a Presença Divina estava constantemente entre eles. Eram o símbolo de sua consagração como "um reino de sacerdotes e um povo santo". Em outras palavras, o Mishkán tinha como principal objetivo o aperfeiçoamento espiritual do ser humano. O Midrash nos alerta, porém, que tanto o Santuário do Deserto como o Templo, mais tarde, eram apenas representações materiais do "verdadeiro Santuário", o lugar que D´us escolhera para "habitar " - e este é o coração de todo judeu.

Segundo a Cabalá, o Tabernáculo é o microcosmo do universo e, como tal, reflete as verdades mais profundas sobre a vida e a Criação. Uma de suas finalidades era ensinar ao homem que ele tem a responsabilidade de elevar e santificar a si mesmo e a toda a Criação. Numa escala infinitamente mínima, dizem os textos místicos, o Mishkán reflete a Fonte Universal da qual emanam as bênçãos sobre toda a Criação.

O Tabernáculo era também o ponto de convergência de toda a Nação, um centro espiritual que os congregava, fazendo deles um grupo homogêneo e coeso. Localizado no centro dos acampamentos das doze tribos, seria um local onde todo judeu poderia purificar-se, elevar seu espírito e conseguir o perdão Divino. Estas funções couberam, posteriormente, ao Templo Sagrado, em Jerusalém.

Em termos estruturais, o Mishkán era uma construção notável. Muito provavelmente foi a primeira estrutura pré-fabricada, no mundo. Apesar de bastante grande - media 6,10m de altura por 7,30m de largura por 25m de comprimento - toda a sua estrutura podia ser desmontada e transportada de um local para outro. Assim sendo, pôde acompanhar os israelitas enquanto vagavam pelo deserto. Mesmo após terem entrado na Terra de Israel, vez por outra foi necessário transportá-lo para novas paragens. De acordo com a tradição bíblica, ficou em Guilgal durante 14 anos, em Shiló durante 369 anos e, por último, em Nov e Guivon, durante um total de 57 anos. Foi o rei David quem, após conquistar Jerusalém e expandir seu reinado, finalmente trouxe a Arca para Jerusalém.

Sabia ser a cidade escolhida pelo Eterno para que lá fosse edificado um Templo permanente, em substituição ao Tabernáculo móvel e provisório que nos acompanhara em nossa epopéia pelo deserto.

Apesar de sua aparência externa modesta, quase austera, o interior do Mishkán era esplêndido, repleto de ornamentos em ouro, prata, pedra preciosas, materiais suntuosos e os mais adocicados perfumes. Treze diferentes matérias primas foram usadas para a sua construção e de seus implementos, bem como das vestes dos sacerdotes. E todo o povo de Israel participou, com suas oferendas, desta obra magistral.

Apesar dos esforços e do entusiasmo, inúmeras foram as complicações surgidas em relação à sua planta e execução. O profundo simbolismo imbuído em cada um de seus objetos implicava em um cuidado todo especial na execução do menor detalhe que fosse. Segundo o Midrash, enquanto estava no Monte Sinai, D'us mostrou a Moisés, feito em fogo, o modelo exato do Santuário e de seus implementos. Mas, tamanha era a complexidade que, em certas ocasiões, D´us teve que mostrar certos objetos, mesmo ao maior de nossos profetas, quatro vezes.

Para executar a complexa tarefa, D'us escolhera Betsalel, da tribo de Judá; e, para ajudá-lo, indicara Aholiav, da tribo de Dan. Estes, assim como todos os que ajudaram, foram imbuídos por D´us de profunda sabedoria para o desempenho de suas tarefas. A Moisés caberia a responsabilidade de integrar as partes em um todo, já que somente a ele D´us mostrara a planta, em sua totalidade.

O Aron Hakodesh - a Arca sagrada

A primeira instrução que D´us deu a Moisés em relação ao Tabernáculo foi confeccionar um repositório para abrigar "o Testemunho que Eu Te darei". Se analisarmos de uma forma lógica, a Arca não deveria ser construída até ter uma estrutura que a abrigasse. E, de fato, foi isto o que finalmente aconteceu. Somente após a estrutura estar pronta Betsalel confeccionou a Arca, o único implemento que, sob supervisão pessoal de Moisés, ele fez com suas próprias mãos, pois aí pousaria a Shechiná.

Mas, foi a primeira ordem Divina, pois a Torá, testemunho eterno do relacionamento especial entre D´us e Seu povo, é infinitamente mais importante que a estrutura que iria abrigá-la. É por conter o testemunho da Palavra Divina que o Aron é o ponto de maior santidade de todo o Mishkán.

No capítulo 25 do Êxodo, a Torá provê os detalhes referentes à confecção da Arca. Relata o texto bíblico que D´us ordenara que todo Israel participasse da construção, nem que fosse com alguma contribuição simbólica ou apenas em pensamento - uma exceção no que diz respeito aos mandamentos acerca da construção dos outros objetos sagrados. Os Sábios explicam que com isto cada um dos membros de nosso povo teria a sua parte, o seu quinhão de participação na Torá.

Sua estrutura

A Arca era uma caixa retangular medindo 2,5 cúbitos de comprimento e 1,5 cúbito de largura e altura. Feita de madeira de acácia, uma espécie de cedro - em hebraico, shitim, era aberta por cima e devia ser revestida, por dentro e por fora, de uma camada do mais puro ouro. Rashi, o maior comentarista da Torá, explica que para a confeccionar conforme as especificações Divinas, Betsalel fez três caixas. A primeira, de madeira de acácia. Uma segunda, maior, de ouro puríssimo, dentro da qual era colocada a caixa de madeira.

Por último, uma terceira, menor, que foi colocada dentro da caixa de acácia. Desta forma, o receptáculo principal era coberto de ouro em seu interior e exterior. Para confeccioná-la, foram utilizados o mais puro ouro e madeira porque, explicam nossos sábios, a Torá é como o ouro em seu valor e pureza, mas é também chamada de Árvore da Vida.

O ouro é primeiro na lista dos materiais a serem utilizados na construção do Tabernáculo. O Midrash observa que este metal é particularmente adequado para o Santuário, pois o objetivo deste era o "refinamento" espiritual do ser humano. Assim, como se refina o ouro bruto de suas impurezas, de modo semelhante deveria o judeu tentar apurar-se cada vez mais, espiritual e moralmente. Além do que, o ouro puríssimo do Aron serviria como símbolo de que o homem deve tentar alcançar a pureza não somente em suas ações e pensamentos, como também nos instrumentos que utiliza para a sua realização.

Na parte superior da Arca devia haver uma borda de ouro, como que a coroá-la (Yomá, 72b). Segundo o Midrash, o Aron simboliza a Torá e, a borda, a "Coroa da Torá". D´us conferiu ao povo de Israel três coroas: a da Torá, a da Kehuná (o sacerdócio) e a da monarquia. Acima das três, está a da Torá.

A Tampa e os Querubins

Uma tampa, kaporet em hebraico, do mesmo comprimento e largura do Aron Hakodesh e de ouro puríssimo devia cobrir a Arca para a fechar. O Midrash explica o nome kaporet. O termo deriva da palavra kapará, que significa expiação. É uma indicação de que o ouro usado em sua confecção serviria para expiar a grave transgressão que Israel cometera ao fazer o "Bezerro de ouro".

Sobre esta tampa, em suas extremidades, havia "dois querubins de ouro batido". Como D´us ordenara a Moisés que tanto os querubins como a tampa deviam ser feitos da mesma peça de ouro, Betsalel os havia moldado cinzelando as extremidades da tampa. No Talmud há uma descrição da aparência da Arca e dos dois querubins e inúmeras são as discussões sobre cada detalhe. Apesar das diferentes interpretações, diz a tradição que os querubins são representados como anjos com asas, como pássaros, e com rosto de criança, um de sexo masculino e outro, feminino. As asas dessas criaturas celestiais, estendendo-se para cima da tampa, formavam um arco protetor e sua face estava voltada uma à outra, inclinando-se para baixo, em direção à tampa.

É preciso que se faça uma ressalva importante. Apesar de D'us ter proibido a construção de imagens, esses querubins eram uma exceção, pois Ele Mesmo ordenara, de forma explícita, que fossem colocados sobre a Arca. E, no judaísmo, o que pode ou não ser feito depende exclusivamente da Vontade Divina. Mas, para evitar qualquer dúvida sobre a proibição absoluta de se adorar imagens e mostrar a Israel que os querubins não eram destinados à adoração, mas indicavam um lugar onde se concentrava a força espiritual, eles não ficavam de frente para o povo, mas um olhando para o outro.

Além do mais, o fato de estarem colocados sobre a Arca - que abrigava as duas Tábuas da Lei e o rolo original da Torá -- era uma clara indicação da Fonte Única e Verdadeira de todo o Poder Espiritual.

Era "entre os querubins" que o Eterno comunicava-se com Seu profeta. A Torá relata as palavras do Todo Poderoso a Moisés: "E no tempo marcado, Eu estarei lá, falarei contigo desde a tampa da Arca, entre os dois querubins que estão sobre a Arca do Testemunho" (Êxodo, 25:22). Por isso, o espaço entre estas duas formas era visto por sábios e profetas como o foco principal da força espiritual e de toda inspiração profética, uma abertura para a dimensão espiritual, o próprio caminho à ascensão espiritual.

A simbologia que envolve os querubins é vasta e profunda. Em diversas ocasiões a Torá menciona essas criaturas celestiais: D'us os coloca para proteger o caminho da Árvore da Vida após a expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden; na visão do profeta Ezequiel, são os portadores do Trono de Glória Divina, e aparecem em várias outras visões proféticas. Representam entre outros o dualismo inerente a toda a Criação - as duas Tábuas da Lei, mantidas no Aron Hakodesh, eram um lembrete desta mesma verdade. Além disso, representam os princípios masculino e feminino que permeiam todo o Universo. Segundo Rashi, as faces infantis simbolizavam a pureza da inocência e do amor de D'us por Israel. Não podemos esquecer que foram as crianças de Israel que haviam sido eleitas no Monte Sinai como "os fiéis guardadores da Torá".

O fato dos querubins terem a forma de um ser humano alado era uma alusão à capacidade do homem de transcender os laços terrenos. E, as asas abertas em direção aos céus representavam a vontade que motiva todas as criaturas a voar para cima "em direção a esferas espirituais mais elevadas". Pois, mesmo estando o homem ligado à materialidade pelo seu corpo mortal, pode voar com as asas de sua alma e se elevar espiritualmente.

Os querubins, de acordo com os textos místicos, refletiam a relação entre D's e Israel. Explica o Zohar que assim como o homem - pó da terra - criara vida pelo Sopro Divino, também os querubins podiam criar vida, especialmente por estarem em permanente contato com a Presença Divina. Pode-se dizer que eram um barômetro extremamente sensível que "media" a unidade e a harmonia existente entre D´us e o homem.

Quando Israel realizava a Vontade Divina, e aumentava o amor entre Ele e Seu Povo, os querubins ficavam frente a frente e suas asas se tocavam. Mas, quando Israel transgredia A Grande Vontade, os querubins viravam as costas e se afastavam um do outro (Bava Barsa, 99 a). Relata o Midrash que nos dias festivos - os Yamim Tovim - quando os judeus iam até o Santuário e mais tarde até o Grande Templo, as cortinas da Arca eram suspensas e todo Israel podia ver os querubins entrelaçados e perceber o grande Amor que D´us tinha por Seu povo (Yomá, 54a). Relata o Talmud que quando os romanos estavam prestes a destruir o Segundo Templo, os querubins entalhados em madeira que adornavam suas paredes, ao pressentir a desgraça que se abateria sobre Israel, abraçaram-se e choraram, copiosamente.

Isto indicava que naquela hora amarga em que os Filhos de Israel iniciavam seu longo e penoso exílio, na hora de seu mais profundo desespero, o Eterno ainda estava ao lado de Seu povo, Seu amor por nós era forte e inamovível - e, portanto, abraçaram-se os querubins (Chazon L'Moed).

A mobilidade da Torá

Assim como o Mishkán, a Arca era portátil e, por essa razão, tinha quatro anéis de ouro maciço, dois de cada lado, fixados nas paredes laterais de suas quatro superfícies. Duas varas de madeira de acácia, folheada a ouro, traspassavam esses anéis para permitir que se carregasse a Arca. E, uma vez colocadas, não podiam ser mais removidas. Aliás, todos os objetos do Tabernáculo tinham varas com essa mesma função de transporte dos objetos sagrados, mas esta proibição não existe para outros objetos. Por quê? Porque, respondem nossos Sábios, a Arca devia estar sempre pronta para ser transportada de um local para outro.

Para o Rabi Shimshon R. Hirsh, a característica de mobilidade da Arca Sagrada é símbolo da intrínseca mobilidade da Torá. Nossa Lei não está amarrada a um determinado local, nem vinculada a um determinado momento no tempo, mas acompanha nosso povo por toda sua história e em todos seus exílios. Onde forem os judeus, com eles vai a sua Torá. Isto não se aplica aos demais implementos do Tabernáculo e, conseqüentemente, do Grande Templo de Jerusalém. A Arca ficou com Israel até o final do período do Primeiro Templo, desaparecendo em seguida. Mas, segundo a tradição, ainda se encontra em Jerusalém.

O rei Salomão, ao construir o Templo, mandou cavar um túnel secreto e profundo por baixo do Monte do Templo para, em caso de perigo, lá esconder os implementos sagrados. Pouco antes da destruição do Primeiro Templo pelos babilônios, o rei Josias teve uma visão da catástrofe que estava para se abater sobre Israel; e, para garantir a segurança da Arca, tê-la-ia escondido justamente nesse local secreto, sob o Monte do Templo, longe dos olhos inimigos.

OS JUDEUS ACREDITAM QUE A ARCA ESTÁ ENTERRADA NESTE LOCAL.