segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Comentário sobre o PENTATEUCO

A. A Bíblia
A prova concludente do amor divino encontra-se no fato de que Deus se revelou ao homem, e esta revelação ficou registrada na Bíblia. Nascida no Oriente e revestida da linguagem, do simbolismo e das formas de pensar tipicamente orientais, a Bíblia tem, não obstante, uma mensagem para a humanidade toda, qualquer que seja a raça, cultura ou capacidade da pessoa. Contrasta com os livros de outras religiões porque não narra uma manifestação divina a um só homem, mas uma revelação progressiva arraigada na longa história de um povo. Deus revelou-se em determinados momentos da história humana. Diz C. O. Gillis: "Não se pode entender a verdadeira religião. . . sem entender-se o fundo histórico por via do qual nos chegaram estas verdades espirituais."1
A Bíblia é uma biblioteca de 66 livros escritos por 40 autores num período de 1500 anos; não obstante, nela se desenvolve um único tema, que une todas as partes, a redenção do homem.
O tema divide-se assim:
1. O Antigo Testamento: a preparação do Redentor.
2. Os Evangelhos: a manifestação do Redentor.
3. Os Atos: a proclamação da mensagem do Redentor.
4. As Epístolas: a explicação da obra do Redentor.
5. O Apocalipse: a consumação da obra do Redentor.
Mais de três quartas partes da Bíblia correspondem ao Antigo Testamento. Com exceção dos onze primeiros capítulos do Gênesis, do livro de Jó e de certas partes dos profetas, o Antigo Testamento dedica-se ao trato de Deus com a raça escolhida. Deus elegeu o povo hebreu com três finalidades: ser depositário de sua Palavra; ser a testemunha do único Deus verdadeiro perante as nações; ser o meio pelo qual viesse o Redentor.
O Antigo Testamento divide-se de acordo com o seu conteúdo: O Pentateuco ou lei: Gênesis a Deuteronômio 5 livros
História: Josué a Ester 12 livros
Poesia: Jó a Cantares 5 livros
Profecia Isaías a Malaquias 17 livros
B. O Pentateuco
1. Título: O nome Pentateuco vem da Versão grega que remonta ao século III antes de Cristo. Significa: "O livro em cinco volumes." Os judeus lhe chamavam "A lei" ou "A lei de Moisés", porque a legislação de Moisés constitui parte importante do Pentateuco.
2. Autor: Embora não se afirme no próprio Pentateuco que este haja sido escrito por Moisés em sua totalidade, outros livros do Antigo Testamento citam-no como obra dele. (Josué 1:7-8; 23:6; I Reis 2:3; II Reis 14:6; Esdras 3:2; 6:18; Neemias 8:1; Daniel 9:11-13.) Certas partes muito importantes do Pentateuco são atribuídas a ele (Êxodo 17:14; Deuteronômio 31:24-26). O escritores do Novo Testamento estão de pleno acordo com os do Antigo. Falam dos cinco livros em geral como "a lei de Moisés" (Atos 13:39; 15:5; Hebreus 10:28). Para eles, "ler Moisés" eqüivale a ler o Pentateuco (ver II Coríntios 3:15: "E até hoje, quando é lido moisés, o véu está posto sobre o coração deles"). Finalmente, as palavras do próprio Jesus dão testemunho de que Moisés é o autor: "Porque, se vós crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim escreveu ele" (João 5:46; ver também Mateus 8:4; 19:8; Marcos 7:10; Lucas 16:31; 24:27, 44).
Moisés, mais do que qualquer outro homem, tinha preparo, experiência e gênio que o capacitavam para escrever o Pentateuco. Considerando-se que foi criado no palácio dos faraós, "foi instruído em toda a ciência dos egípcios; e era poderoso em suas palavras e obras" (Atos 7:22). Foi testemunha ocular dos acontecimentos do êxodo e da peregrinação no deserto. Mantinha a mais íntima comunhão com Deus e recebia revelações especiais. Como hebreu, Moisés tinha acesso às genealogias bem como às tradições orais e escritas de seu povo, e durante os longos anos da peregrinação de Israel, teve o tempo necessário para meditar e escrever. E, sobretudo, possuía notáveis dons e gênio extraordinário, do que dá testemunho seu papel como líder, legislador e profeta.
3. Teoria documentária da Alta Crítica: Há dois séculos, eruditos de tendência racionalista puseram em dúvida a paternidade mosaica do Pentateuco. Criaram a Teoria Documentária da Alta Crítica, segundo a qual os primeiros cinco livros da Bíblia são uma compilação de documentos redigidos, em sua maior parte, no período de Esdras (444 a. C) No entender desses autores, o documento mais antigo que se encontra no Pentateuco data do tempo de Salomão. Julgam que o Deuteronômio é uma "fraude piedosa" escrita pelos sacerdotes no reinado de Josias tendo em mira promover um avivamento; que o Gênesis consiste mormente em lendas nacionais de Israel.
Muitos estudiosos conservadores acham provável que Moisés, ao escrever o livro do Gênesis, tenha empregado genealogias e tradições escritas (Moisés menciona especificamente "o livro das gerações de Adão", em Gênesis 5:1). William Ross observa que o tom pessoal que encontramos na oração de Abraão a favor de Sodoma, no relato do sacrifício de Isaque, e nas palavras de José ao dar-se a conhecer a seus irmãos "é precisamente o que esperaríamos, se o livro de Moisés fosse baseado em notas biográficas anteriores".2 Provavelmente, essas valiosas memórias foram transmitidas de uma geração para outra desde tempos muito remotos. Não nos cause estranheza que Deus possa ter guiado Moisés a incorporar tais documentos em seus escritos. Seriam igualmente inspirados e autênticos.
Também é notável haver alguns acréscimos e retoques insignifican¬tes de palavras arcaicas, feitos à obra original de Moisés. É universalmente reconhecido que o relato da morte de Moisés (Deuteronômio 34) foi escrito por outra pessoa (o Talmude, livro dos rabinos, o atribui a Josué). Gênesis 36:31 indica que havia rei em Israel, algo que não existia na época de Moisés. Em Gênesis 14:14 dá--se o nome "Dã" à antiga cidade de "Laís", nome que lhe foi dado depois da conquista. Pode-se atribuir isto a notas esclarecedoras, ou a mudanças de nomes geográficos arcaicos, introduzidas para tornar mais claro o relato. Provavelmente foram agregados pelos copistas das Escrituras, ou por algum personagem (como o profeta Samuel). Não obstante, estes retoques não seriam de grande importância nem afetariam a integridade do texto. Assim, pois, são contundentes tanto a evidência interna como a externa de que Moisés escreveu o Pentateuco. Muitos trechos contêm frases, nomes e costumes do Egito, indicativos de que o autor tinha conhecimento pessoal de sua cultura e de sua geografia, algo que dificilmente teria outro escritor em Canaã, vários séculos depois de Moisés. Por exemplo, considere¬mos os nomes egípcios: Potifar (dom do deus do sol, Ra), Zafnate--Paneá (Deus fala; ele vive), Asenate (pertencente à deusa Neit) e On, antigo nome de Heliópolis (Gênesis 37:36; 41:45, 50). Notemos, também, que o autor menciona até os vasos de madeira e os de pedra que os egípcios usavam para guardar a água que tiravam do rio Nilo. O célebre arqueólogo W. F. Albright diz que no Êxodo se encontram em forma correta tantos detalhes arcaicos que seria insustentável atribuí-los a invenções posteriores.3
Também, pelas referências feitas com relação a certos materiais do tabernáculo, deduzimos que o autor conhecia a península do Sinai. Por exemplo, as peles de texugos se referem, segundo certos eruditos, às peles de um animal da região do mar Vermelho; a "onicha", usada como ingrediente do incenso (Êxodo 30:34) era da concha de um caracol da mesma região. Evidentemente, as passagens foram escritas por alguém que conhecia a rota da peregrinação de Israel e não por um escritor no cativeiro babilônico, ou na restauração, séculos depois.
Do mesmo modo, os conservadores mostram que o Deuteronômio foi escrito no período de Moisés. O ponto de referência do autor do livro é o de uma pessoa que ainda não entrou em Canaã. A forma em que está escrito é a dos tratados entre os senhores e seus vassalos do Oriente Médio no segundo milênio antes de Cristo. Por isso, estranhamos que a Alta Crítica tenha dado como data destes livros setecentos ou mil anos depois.
A Arqueologia também confirma que muitos dos acontecimentos do livro do Gênesis são realmente históricos. Por exemplo, os pormenores da tomada de Sodoma, descrita no capítulo 14 do Gênesis, coincidem com assombrosa exatidão com o que os arqueólo¬gos descobriram. (Nisto se incluem: os nomes dos quatro reis, o movimento dos povos, e a rota que os invasores tomaram, chamada "caminho real". Depois do ano 1200 a. C, a condição da região mudou radicalmente, e essa rota de caravanas deixou de ser utiliza¬da.) O arqueólogo Albright declarou que alguns dos detalhes do capítulo 14 nos levam de volta à Idade do Bronze (período médio, entre 2100 e 1560 a. C.).4 Não é muito provável que um escritor que vivesse séculos depois conhecesse tais detalhes.
Além do mais, nas ruínas de Mari (sobre o rio Eufrates) e de Nuzu (sobre um afluente do rio Tigre) foram encontradas tábuas de argila da época dos patriarcas. Nelas se descrevem leis e costumes, tais como as que permitiam que o homem sem filhos desse sua herança a um escravo (Gênesis 15:3), e uma mulher estéril entregasse sua criada a seu marido para suscitar descendência (Gênesis 16:2). Do mesmo modo, as tábuas contêm nomes equivalentes ou semelhantes aos de Abraão, Naor (Nacor), Benjamim e muitos outros. Por isso, tais provas refutam a teoria da Alta Crítica de que o livro do Gênesis é uma coletânea de mitos e lendas do primeiro milênio antes de Cristo. A Arqueologia demonstra cada vez mais que o Pentateuco apresenta detalhes históricos exatos, e que foi escrito na época de Moisés. Há razão ainda para se duvidar de que o grande líder do êxodo foi seu autor?
4. Ambiente do mundo bíblico: Quando Abraão chegou à Palesti¬na, esta já era uma ponte importante entre os centros culturais e políticos daquela época. Ao norte achava-se o império hitita; ao sudoeste, o Egito; ao oriente e ao sul, Babilônia; e ao nordeste o império assírio. Ou seja, que os israelitas estavam localizados em um ponto estratégico e não isolado geograficamente das grandes civiliza¬ções.
A maioria dos historiadores acha que a planície de Sinar, situada entre os rios Eufrates e Tigre, foi o berço da primeira civilização importante, chamada suméria. No ano 2800 a. C. os sumérios já haviam edificado cidades florescentes e haviam organizado o governo em cidades-estados; também haviam utilizado metais e tinham aperfeiçoado um sistema de escrita chamada cuneiforme. Quase ao mesmo tempo, desenvolvia-se no Egito uma civilização brilhante. É provável que quando Abraão se dirigiu para o Egito, tenha visto pirâmides que contavam mais de 500 anos.
A região onde se desenvolveu a primeira civilização é chamada "fértil crescente" (pela forma do território que abrange). Estende-se de forma semicircular entre o Golfo Pérsico e o mar Mediterrâneo, até ao sul da Palestina. O território é regado constantemente por chuvas e rios caudalosos, como o Eufrates, o Tigre, o Nilo e o Orontes, o que possibilita uma agricultura produtiva. No interior desta região está o deserto da Arábia, onde há escassas chuvas e pouca população. Ali, no fértil crescente, surgiram os grandes impérios dos amorreus, dos babilônios, dos assírios e dos persas. O mais importante para nós, todavia, é que ali habitou o povo escolhido de Deus e ali nasceu o Homem que seria o Salvador do mundo.
Toda a região compreendida entre os rios Eufrates e Tigre chama-se Mesopotâmia (meso: entre; potamos: rio). No princípio denominava--se "Caidéia" à planície de Sinar, desde a cidade de Babilônia, ao sul, até ao Golfo Pérsico; mas posteriormente o termo "Caidéia" passou a designar toda a região da Mesopotâmia (a mesma área chamava-se também Babilônia).

Abrangia muito do território do atual Iraque, e era provavelmente o local do jardim do Éden e da torre de Babel. O território da Palestina é relativamente pequeno. Desde Dã até Berseba, pontos extremos no norte e no sul, respectivamente, há uma distância de apenas 250 quilômetros. O território tem desde o mar Mediterrâneo até ao mar Morto, 90 quilômetros de largura; e o lago de Genesaré (mar da Galiléia) dista aproximadamente 50 quilômetros do mar Mediterrâneo. A área total de Canaã eqüivale, em tamanho, à sétima parte do Uruguai ou a um terço do Panamá. Contudo, nesta porção tão pequena do globo terrestre, Deus revelou-se ao povo israelita, e ali o Verbo eterno habitou entre os homens e realizou a redenção da raça humana.

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